terça-feira, 12 de janeiro de 2010

CAPÍTULO XX

Se as Fortalezas e Muitas Outras Coisas que os Príncipes Fazem Diariamente São Úteis ou Não
Para manter com segurança o seu estado, alguns príncipes desarmaram seus súditos, outros mantiveram os territórios divididos, alguns fomentaram inimizades contra si mesmos, outros procuraram conquistar os que lhes pareciam suspeitos no início de seu governo, alguns construíram fortalezas, outros as arruinaram e destruíram. No entanto, ainda que todas essas coisas não possam ser julgadas em definitivo sem se conhecerem as particularidades dos estados onde for necessário tomar tais decisões.
Jamais existiu um príncipe novo que desarmasse os seus súditos; pelo contrario, encontrando-os desarmados, sempre os arma, porque, ao lhes dar armas, estas armas tornam-se tuas; tornam-se fiéis os que te eram suspeitos, conservam-se leais os que já o eram e transformam-se os súditos em teus partidários. Como não se podem armar todos os súditos, ao beneficiar alguns com tuas armas, podes estar mais seguro diante dos demais. A diversidade de tratamento em relação aos primeiros torna-os reconhecidos a ti e os demais te desculpam, julgando necessário ter maiores privilégios que enfrentou maiores perigos e tem mais obrigações. Mas, quando os desarmas, começas a ofendê-los, mostrando desconfiar deles por vileza ou má-fé, e uma ou outra dessas opinioes faz com que se acenda ódio contra ti. Como não podes ficar desarmado, precisas valer-te dos exércitos mercenários, que são do tipo que descrevi acima; e, mesmo que fossem bons, não o seriam suficientemente para defender-te dos inimigos poderosos e dos súditos suspeitos. Por isso, como afirmei, um príncipe novo, em um principado novo, sempre cria eércitos; as histórias estão repletas de exemplos disso.
(...)
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Fls. 99/ 100.

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